MARTA JARDIM
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2/3/2017 0 Comments

A casa da escrita

Ao subirmos a íngreme rua da zona histórica de Coimbra, ao virar de uma esquina encontramos a Casa da Escrita, do arquiteto João Mendes Ribeiro, um edifício branco igual a tantos outros, discreto como a sua cenografia de Pedro e Inês, um plano horizontal sobre o palco. Um mundo à espera que ser explorado, uma superfície cheia de momentos para serem descobertos com o tempo, desta vez, não da narrativa de palco, mas o tempo do nosso percurso. À entrada é reconhecível a sua intervenção, um volume de vidro é intersectado com o vão onde em tempos existiu uma simples porta. Depois de já ter visitado algumas obras do arq. João, reconheço a porta de vidro, com uma estrutura em aço e puxador feito em chapa. Ao entrarmos damo-nos com uma escultura em madeira verticalmente marcada com dupla funcionalidade, um acesso vertical e um espaço onde é possível entrar e colocar livros, na parte inferior da escada. Esta escultura é cuidadosamente colocada sobre a laje superior, sem tocar nas extremidades laterais. Esta escultura intersecta três espaços diferentes, o ponto de partida é a primeira sala de exposições, em seguida conduz-nos ao hall de entrada através de uma visita só visual e por fim, leva-nos ao piso superior convidando-nos a desfrutar da paisagem deslumbrante que a janela em frente nos oferece.
Talvez remetendo às suas memórias de infância, no tempo em que ia para a carpintaria com o seu avô, a presença da madeira nas suas obras é muito recorrente e o cheiro a madeira, acaba por ser mais um sentido estimulado na sua arquitetura.
Ao continuar o nosso percurso, encontramos uma plateia de cadeiras alinhadas em silêncio, orientadas para um possível declamador de poesia, enquanto contemplam, por detrás do orador, a natureza. Neste espaço tudo parece estar em harmonia, a poesia, a natureza e o sossego. Todas as condições estão criadas para que as palavras sejam devidamente absorvidas e nos elevem. Abandonado com todo o cuidado este espaço, entramos para uma pequena divisão cheia de livros, As paredes são cobertas por esta quadrícula regular em madeira e uma mesa quadrada ao centro. Junto à janela, há um momento delicioso, dois planos, que devido à sua escala convida-nos a sentar e desfrutar da luz natural para escrevermos algumas anotações e pensamentos que queremos aprofundar do que ouvimos anteriormente. Posto alguns momentos, e querendo relaxar sem perturbar muito a alma, existe um jardim com um relvado e algumas flores, na parte detrás do edifício.
Voltando a entrar por uma outra porta, damo-nos com uma passagem rica em cores vibrantes que só os azulejos portugueses têm, continuando esta linha mais popular, temos espreitamos a cozinha com peças muito tradicionais, como uma lindíssima peça de lioz esculpida a servir como lavatório. Descendo ao piso inferior através de uma escada de estrutura de ferro, o ritmo é muito demarcado, através da luz que desce até ao último piso de uma forma fragmentada, desenhando sombras sobre as paredes. Ao chegar ao último piso, encontramos uma outra sala a uma cota ligeiramente inferior, separada uma espécie de 'proscenio', com um volume em madeira, uma espaço máquina, com uma funcionalidade muito pragmática. Voltando a subir, desta vez até ao último piso, chegamos ao climax deste percurso. Uma biblioteca única, uma espécie de sótão onde a massa é esculpida com mestria trazendo a luz certa para cada recanto. Ao centro temos uma mesa comprida onde os objetos sublinham a simetria. À nossa direita existem uns pequenos espaços individuais, uns pequenos casulos onde nos convidam a permanecer na nossa leitura por imenso tempo, na companhia de uma paisagem sobre a natureza envolvente. Este, para mim, foi um dos melhores momentos deste percurso, um espaço desenhado com uma enorme destreza e noção de escala e conforto. Fazendo o percurso inverso, vou com uma enorme vontade de voltar. ​
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    Marta Jardim

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