Tavares, Gonçalo M. in “Investigações Geométricas”. Edições Campo Alegre. Cadernos do Campo Alegre/9. pag. 9,10,11. Porto, 2005. Os animais e o dinheiro, de Gonçalo M. Tavares e Os Espacialistas, presente no festival BoCA 2019, Bienal of Contemporary Arts, trata-se de uma performance que resulta da construção a partir de textos, imagens, gestos, objectos e espaços em permanente construção. Esta performance faz uma crítica social através de um convite a olhar para as figuras puras da geometria, circulares e retangulares presentes nas paisagens do nosso quotidiano. As formas circulares assemelha-se às formas orgânicas, parecem ter sido feitas ao acaso, são banais, mais próximas das natureza. Os objectos com estas formas são pobres, como as moedas, as hóstias... Mas se esses objectos forem colocados num retângulo, estas tornam-se não orgânicas, obedecem a uma organização, enquadramento, simetria ganhando logo um outro valor. Tudo o que tem valor está num rectângulo: as notas, os cartões, os telemóveis, as tvs, os painéis publicitários, tudo isto é vendível. Podemos ir mais longe e olhar para os movimentos da sociedade. O homem comum trabalha em círculos, como uma engrenagem que faz a máquina mexer. E esta máquina está tão bem montada que o homem já nasce maquinesco pois não sente raiva, nem pára para sentir aborrecimento, pois é eticamente incorreto, só pára quando avaria. Pelo contrário, o homem que manda anda de forma reta e objetiva. A certa altura na peça é contado: “Um homem estava há procura de trabalho e disseram-lhe: - Se te cortarmos um braço, damos-te trabalho. O homem estava desempregado há muito tempo e tinha filhos, aceitou. Um homem estava há procura de trabalho e disseram-lhe: - Se cortarmos o teu outro braço damos-te trabalho. O homem estava desempregado há muito tempo e tinha filhos, aceitou. Um homem estava há procura de trabalho e disseram-lhe: - Se te cortarmos a cabeça damos-te trabalho. O homem estava desempregado há muito tempo e tinha filhos, aceitou." Durante a peça é contado ainda: "Um homem encontrou um monte de roupa no chão, saiu um braço e ouviu-se uma voz: - Estou vivo, dá-me! (...) A mão que gritou, “Estou vivo dá-me!” acabou atrás de um retângulo." A questão que coloco é: será que a sociedade é preparada para saber pensar ou fazer acionar a roda? A escola ensina os jovens a pensar ou a saber fazer? Que país queremos ser? Um país que produz ou um país que vende ideias? Registo fotográfico: Bruno Simão
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Marta JardimI'm a architect with a passion for dance performance Archives
June 2019
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